sábado, 8 de janeiro de 2011

Avivamento e a Síndrome de “Denorex”

eu assistia a propaganda na televisão acerca de um produto chamado “denorex”… e uma frase se seguia dizendo “aquele que parece… mas não é”. Falamos muito em Avivamento no Brasil não é mesmo? Mas, será que não é apenas sindrome de ‘denorex’?, ou seja: fogo e euforia que parace avivamento… mas não é.

Há um clamor em muitos lábios pelo mundo inteiro. O povo de Deus no Brasil clama em alto e bom som na letra dos louvores, nos hinos, na própria estrofe do louvor do grupo Diante do Trono, em que se canta: “chuvas de um avivamento”. Nossos púlpitos e tribunas gritam por avivamento. Surge uma febre intitulada: pregadores avivalistas. Mas, o que seria uma avivalista? Um pregador que fala sobre a importância dos crentes darem “glória a Deus e Aleluia” enquanto o sermão está em andamento, ou talvez sejam aqueles que viajam pelo mundo com seus “assopros”, ou jogando seus paletós nas multidões, que eufóricas aguardam a hora final da mensagem para “repousarem no Espírito”; enfim, quem serão esses tais avivalistas? Talvez, você já se aborreceu com o que acabou de ler, mas, aguarde um pouco mais, pois é precioso que eu deixe claro desde o início, que não sou contra o movimento PentecostaL, no entanto não sou inimigo do Movimento Tradicional ou Igrejas Históricas. Tenho minhas origens no movimento pentecostal e creio na liberdade do Espírito Santo, pois na Bíblia sagrada diz:

“O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”(João 3:8 – Tradução da Nova Versão Internacional das Escrituras).

Conforme esse texto, duas coisas ficam bem claras: Primeiro: Não só a Palavra não está presa, como o Espírito também não está. O Espírito Santo é livre e não está e nem pode ser trancafiado nas nossas compreensões pseudo-espirituais, muito menos cabe dentro da nossa teologia muitas vezes tupiniquim e sistematizada. O texto é claro ao dizer que, “o Espírito sopra onde quer”. Não diz que ele é submisso aos nossos concílios, nem a nossa batisticidade, nem a nossa presbiterianicidade, muito menos a nossa adventisticidade. Segundo: O Espírito Santo não só não está preso, como também é misterio puro, não sabemos de onde vem nem para onde vai. Não haverá avivamento enquanto não deixarmos de lado nossos preconceitos a respeito da obra poderosa do Espírito. Sim, precisamos urgentemente de um avivamento que faça ruir esses pré-conceitos.

Estou escrevendo desta maneira, para que fique claro que quando faço observações, talvez duras para alguns, mas que em nenhum momento se trata de preconceito ou incredulidade à ação do Espírito, mas sim, uma chamada à reflexão do tipo de pentecostalismo que vivemos e pregamos, se é que podemos incluir estes grupos dentro do conceito real do que é ser um pentecostal.

Não há dúvidas de que a igreja está crescendo, cultos evangelísticos, pregações nas praças, cruzadas em ginásios, passeatas e carreatas estão anunciando a Jesus. Igrejas, associações e seminários teológicos tem tratado de missões locais e transculturais. Nunca se falou tanto em janela 10/40. Igrejas estão sendo despertadas e reconhecendo que “antes não tinham esta visão missionária”. Homens como: Edson Queirós, Caio Fábio, José Wellington Bezerra, Russel Shedd e tantos outros tem ministrado sobre a igreja e sua missão Integral. Pregadores maravilhosos como Billy Graham tem anunciado o evangelho a milhões, enfim, a igreja está crescendo. As estatísticas mostram com números este fato. Porém, há algumas coisas que elas não mostram, mas, infelizmente os jornais as estampam em primeira página, não fazendo com que o nome de Deus seja glorificado, e sim blasfemado entre os hipócritas que não tem coragem de olhar para si próprios antes de por o dedo em riste em direção a igreja.

Porém, independente da hipocrisia mundana, não dá mais para brincar de denoréx, lembra? Ou seja, “aquele que parece, mas não é”. Se o mundo vê algo que não vemos, isto significa que estamos de alguma maneira dormindo, pois há áreas em que existem certas esquisitices em nosso meio, há sintomas de que o crescimento não está sendo proporcional. Você pode estar questionando, o que isso tem haver com avivamento? Antes de lhes responder esta pergunta, quero recitar uma frase que o pastor Ricardo Gondim citou no seu sermão na passagem do ano de 2001 para 2002 na Betesda: “… para ver defeitos basta ser cínico…” Hoje, no nosso caso específicamente falando, não se trata de ver defeitos, (se bem que muitas vezes somos cínicos) mas de observarmos os acontecimentos que não estão contribuindo para melhorar a igreja, nem proporcionar a oportunidade de ser sal da terra, de dar gosto no desgosto da humanidade. Para a igreja não resta alternativa, precisamos de um avivamento que é caracterizado, marcado pela santidade, pelo equilíbrio entre Palavra e Poder, entre Caráter e Carisma, entre ação social e culto…

Citando ainda o pastor Ricardo Gondim no seu livro sobre pós-modernidade, encontramos observações sobre a “geração sem conteúdo”. É nesta geração que vivemos, é para esta geração que temos de ser voz profética, é para esta geração de irmãos e irmãs que terminam o culto e saem correndo para casa, reclamando da demora do sermão (e que na verdade reclamam da demora pois estão atrasados para acompanhar quem será eliminado na “Fazenda” ou no Big Brother Brasil ou “No Limite”) que temos que levantar nossa voz. Sim, é para estes que se dirige a nossa palavra. Creio que é possível sonhar com o verdadeiro avivamento, com o dia em que as coisas serão levadas mais a sério na igreja, sonhar com o dia onde possamos falar o que deve ser dito, sem ter que ver tudo sendo jogado em ouvidos que estão com comichão, verdadeiros “túneis do vento”, porque parece que o que estamos presenciando por aí em muitos lugares (não disse em todos) é aquilo que o Pastor Caio Fábio abordou no seu livro “Avivamento à Brasileira”, ou seja, é aquele avivamento gerado não pelo Espírito Santo, mas sim pelas estratégias humanas fabricadas pelo “jeitinho brasileiro”, ou por Marketeiros da fé.

Não desejamos esse avivamento fabricado pelas estratégias humanas, não queremos avivamento sem conteúdos bíblicos sólidos, sem quebrantamento, sem amor pelo pobre, pelo mendigo da praça da Sé, ou pela indiferença para com a prostituta que vende seu corpo nas esquinas do Brasil. Não queremos um avivamento misturado à insensibilidade pelo próximo. Muitos menos gostaríamos de ver apenas um avivamento cheio de agitação, gesticulação, pula-pula, aeróbica espiritual, muita transpiração, no entanto descaracterizado e desassociado da unção e presença de Deus.

O que é avivamento? Infelizmente, muitos ainda não sabem ou não entendem o que é isso. Outros sabem, mas não conseguem discernir a respeito da necessidade e do preparo necessário para que ele aconteça, e ainda há aqueles que não compreendem como ele começa, muito menos de que precisamos dele urgentemente.

Quando criança costumava ouvir expressões como: “hoje à noite teremos um culto de avivamento poderoso (Será que existia algum avivamento que não fosse poderoso?). Outras vezes era comum ouvir sobre oração de avivamento”. Hoje, certas igrejas já fazem “oração forte” por avivamento (Será que existe oração fraca?). Geralmente o que acontecia é que não passava de um culto normal, isto é, dentro do ambiente pentecostal é ‘normal’ aquele culto repleto de línguas, profecias, irmãos cujas vozes parecem verdadeiros trovões bradando glórias e aleluias, sapatinho de fogo, etc… Isto no conceito de muitos é um culto avivado, e fora desse conceito, é culto tradicional, frio, morno. Talvez haja quem discorde e diga: “na minha igreja não é bem assim”. Essa é a razão pela qual não estou generalizando. Mas, cresci em ambientes parecidos com este e sei que ainda existem muitas igrejas assim aqui no Brasil. Lembro quando há algum tempo atrás, um pastor avivalista me chamou para conversar em seu gabinete, por causa de um comentário que fiz como professor de homilética na aula, dizendo ser ele um pregador temático, ou seja, aquele que monta seus sermões tomando por base temas e assuntos, procurando depois textos que substanciem suas afirmações. Ele afirmou que eu tinha “mexido com sua unção”, o que para ele era intolerável. Pediu educadamente que eu deixasse de lecionar no seminário de sua dominação, e disse-me “que eu tinha a lepra do tradicionalismo”, e olha que eu sempre fui desde o berço, membro de um movimento “pentecostal”. Veja bem, ele não entendeu o que eu havia dito, porém…

Como uma forma de rechaçar, há aqueles que chamam nossos irmãos conservadores de forma pejorativa de “sorveterianos”, e “cemiterianos” para descrevê-los como frios e mortos. No entanto esses amados irmãos ultrajados e ofendidos constantemente têm tido a firmeza de continuarem e não se abalarem com esses comentários perniciosos. Particularmente, fico muito triste de ver tanta insensibilidade. Talvez vocês já tenham percebido que não sou um escritor como Caio Fábio ou um perito como Max Lucado, muito menos um comunicador como Ricardo Gondim, mas gostaria de deixar claro que amo meu Senhor, amo a igreja, e quero contribuir em algo para edificar e conscientizar esta amada igreja de Jesus Cristo, que com certeza, não foi estabelecida para ter uma liturgia atropelada, nem atrofiada, muito menos para ser toda certinha, bonitinha, ortodoxazinha, mesquinhazinha, hipocritazinha, ou aquela coisa rotineira com fortes tendências ao fanatismo ou intelectualismo árido. Pedimos a Deus um avivamento onde as pessoas saiam transformadas, restauradas diante de Deus, com vidas nobres, com comportamentos diferentes e saudáveis, com o coração quebrantado e disposto a endireitar veredas e aplainar caminhos outrora tortuosos. Pois já saí diversas vezes da igreja, com a sensação de que naquele dia o teto do templo não veio ao chão por misericórdia de Deus, de tanto “PODER” que caiu na igreja naquele dia. No entanto apesar de muito choro, pranto e “quase ranger de dentes”, de muitas reações físicas, não passavam de avivamento do tipo bateria com descarga rápida onde o poder era apenas por uma hora e meia, até o culto terminar, mas, que de nada serviria para a segunda-feira de manhã, onde as pessoas estariam de novo ansiosas, egoístas, pedradas, achando que estão renovadas, mas continuam insensíveis… Vivendo dentro da igreja uma espiritualidade utópica, e durante a semana, como um possesso. Amarrando Satanás quando está na igreja, e soltando-o quando chega em casa. Na verdade não sou contra as igrejas “quietíssimas ou quentíssimas”, cada uma tem sua história e sua contribuição, cada uma ao meu ver podem se alegrar com o que hoje são, mas podem se alegrar ainda mais com o que podem vir a ser. Sou de linhagem pentecostal, e estou certo de uma coisa, aprendi que pular, transpirar, fazer sapatinho de fogo, repousar no Espírito não são marcas, nem sinônimos de avivamento verdadeiro. Não entrarei no mérito se estas “reações” são certas ou erradas. Existem muitos bons livros que tratam do assunto. Recomendo que se leia “Evangélicos em crise” do pastor Paulo Romeiro e “Surpreendido pelo poder do Espírito” de Jack Deere, e por último creio que será de grande valia ler também, “Igrejas da palavra e do poder” de Doug Banister, ambos os livros são bem acessíveis.

Quando eu digo que essas “manifestações” e “reações (ex. cair no Espírito, línguas, profecias, dentes de ouro…) não são prova cabal do verdadeiro avivamento, não estou dizendo que sou contra algumas delas, mas também não sou a favor de todas elas. Por mais que alguns comentaristas e escritores escrevam certas coisas em nome de Deus, isto não significa que o próprio Deus esteja falando. Pois muitas coisas estão sendo ditas por um grupo de gente que não conhece a Palavra e muito menos o Poder. Sem tal conhecimento é possível que hajam extremos de ambos os lados, e se não houver extremos, provavelmente haverá erros. Por isso as escrituras nos advertem:

“… Errais por não conhecer a palavra e nem o poder de Deus…”

A atitude mais nobre a ter é que se encontra em Atos 17:11, que diz assim: “Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse examinando todos os dias as escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.” (NVI). Esse texto nos ajuda a entender, que são as escrituras e não o pastor avivalista com suas leituras proféticas que vão determinar o certo e o errado.

Avivamento não é fanatismo, legalismo, religiosidade disfarçada de espiritualidade, muito menos misticismo, orgulho espiritual, nem um movimento empírico de gente que quer estabelecer doutrina em cima de suas experiências próprias.

“…Em torno do assunto do avivamento há muita confusão e isto tem gerado diferentes reações: medo, confusão e escândalo, e assim desmotiva o povo de Deus com relação ao assunto.” Diz o reverendo Messias Anacleto Rosa.

Avivamento é um despertamento espiritual. Sendo assim, é o ato de Deus em acordar, despertar o seu povo fazendo-o voltar à vida quanto à realidade do reino do espírito. Tem muita gente com a bíblia na mão, porém estão dormindo; outros falando em línguas, que estão com os olhos totalmente fora da realidade; outros que caíram no Espírito, mas dormem na cama do pecado, não conseguem também andar no Espírito; outros acomodados em suas poltronas reclináveis, no seu luxo, dormem no sono da indolência. Parece que ultimamente vivemos meio que sonâmbulos.

Somente acordados para a realidade é que seremos uma igreja forte, relevante e dinâmica. Pois nunca vi uma pessoa ser dinâmica enquanto dorme, nunca vi alguém ser útil ao reino de Deus, enquanto dorme. Creio que já é hora de despertamos deste terrível mal. Para muitos, somos a igreja dos nossos sonhos, mas se você despertar, verá que, o que verdadeiramente importa é sermos a igreja dos sonhos de Deus.

Avivamento é também um movimento de reforma, de protesto. Quando ocorre um avivamento, quando a igreja se desperta, então já com seus olhos abertos para as realidades tanto sociais quanto espirituais é que então podemos mudar alguma coisa que percebemos não estar agradando nosso bom Deus. Então é quando começam as mudanças radicais. Foi isto o que aconteceu nos séculos passados com a reforma protestante que iniciou-se com o protesto de Martinho Lutero, no século XVI, quando declarou que a salvação é somente pela graça e somente mediante a fé, sendo as escrituras a única autoridade do cristão (expressões que se eternizaram como: “sola gratia, sola fide, sola scriptura”)

Martinho Lutero sabia do preço que teria de pagar por desafiar a toda poderosa igreja romana, mas isto não o impediu de continuar sua busca de reforma, mudanças e transformações. Foi julgado em Worms, na Alemanha no ano de 1521, por heresia. A famosa resposta deste grande homem permanece até hoje nos nossos corações. Foram essas suas palavras finais no seu julgamento:

“Se eu não for convencido de que estou errado pelas escrituras e pela razão pura, não aceito a autoridade de papas e concílios, pois se contradizem, a minha consciência está cativa pela palavra de Deus. Não posso, nem vou me retratar de nada, pois ir contra a consciência não é correto nem seguro. Que Deus me ajude. Assim permaneço. Não posso agir de maneira diferente.”

Toda a reforma e os reformadores estariam respaldados pelo que as escrituras dissessem. Sola scriptura logo se tornaria o grito de batalha da reforma. Essa participação especial e também principal das escrituras numa reforma ou avivamento, não ocorreu pela primeira vez na época de Lutero, visto que se examinarmos nas escrituras, veremos que o rei Josias também começou uma reforma quando as escrituras passaram a fazer parte de sua vida. Abordaremos mais a frente o caso de Josias.

Logo em seguida, temos o famoso expositor das escrituras, teólogo e reformador, João Calvino. Assim como Spurgeon foi conhecido como príncipe dos pregadores, Calvino seria conhecido como o príncipe dos expositores. Foi um homem muito importante e suas palavras são reconhecidas até hoje. Muitos homens deram continuidade ao seu trabalho, ou avivamento e reforma, estes seriam os casos de Jonh Wesley, Charles Finney e outros. Avivamento é o instrumento, o canal no qual Deus trabalha diversas transformações no ser humano e não tem necessariamente a ver com “aeróbica espiritual”.

Rubens Goulart

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