quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cair no espírito é bíblico ?


Em 1923, o missionário sueco Gunnar Vingren, um dos fundadores da Assembléia de Deus no Brasil, fora informado de que um certo movimento pentecostal começava a alastrar-se por Santa Catarina. Sem perda de tempo, Vingren deixou Belém do Pará, berço do pentecostalismo brasileiro, e embarcou para o Sul. No endereço indicado, veio ele a constatar: “Não se tratava de pentecostes, mas de feitiçaria e baixo espiritismo”.

Embora fervoroso pentecostal, Gunnar Vingren não se deixou embair pelo emocionalismo nem pelas aparências. Ele sabia que nem tudo o que é místico, é espiritual; pode brilhar, mas não é avivamento. O misticismo manifesta-se também em rebeldias e mentiras. Haja vista as seitas proféticas e messiânicas.

Teve o nosso pioneiro, como precavido condutor de ovelhas, suficiente discernimento para não aceitar aquele arremedo de pentecostes. Fosse um desses teólogos que colocam a experiência acima da Bíblia Sagrada, o pentecostalismo autêntico jamais teria saído do nascedouro.

Entre as manifestações presenciadas por Gunnar Vingren, achava-se o “cair no poder” que, já naquela época, era conhecido também como “arrebatamento de espírito”. À primeira vista, impressionava; fazia espécie. Não resistia, contudo, ao mínimo confronto com as Escrituras. E nada tinha a ver com as experiências semelhantes que se acham nas páginas da Bíblia.

Irreverente e apócrifo, esse misticismo não se limitou à geração de Vingren. Continua a assaltar a Igreja de Cristo com demonstrações cada vez mais peregrinas e contraditórias. O seu alvo? Levar a confusão ao povo de Deus. No combate a tais coisas, haveremos de ser enérgicos, sábios e convincentes. Mas sempre equilibrados. Através da Bíblia, temos a obrigação de mostrar a pureza e a essência de nossa crença, e a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).

Neste artigo, detenhamo-nos no fenômeno do “cair no Espírito”. Até que ponto há de ser aceito? Como lhe aferir a legitimidade? É realmente indispensável ao crescimento da vida cristã? Vejamos, a seguir, como esse movimento ganhou notoriedade em nossos dias.

I - O Que é o “Cair no Espírito”?

Embora não seja alguma novidade, o “cair no Espírito”, como vem sendo caracterizado, começou a ganhar notoriedade a partir de 1994. Neste ano, a Igreja Comunhão da Videira do Aeroporto de Toronto, no Canadá, passou a ser visitada por milhares de crentes - todos à procura de uma bênção especial. Ao contrário das demais igrejas pentecostais, que buscam preservar a ortodoxia doutrinária, a Igreja do Aeroporto, como hoje é conhecida, granjeou surpreendente notoriedade em virtude das manifestações que ocorriam em seus cultos.

Dizendo-se cheios do Espírito, os freqüentadores dessa igreja começaram a manifestar-se de maneira estranha e até exótica. Em dado momento, todos punham-se a rir de maneira incontrolável; alguns chegavam a rolar pelo chão. Justificando essa bizarria, alegavam tratar-se de santa gargalhada. Ou gargalhada santa? Outros iam mais longe: não se limitavam ao estrepitoso dos risos; saíam urrando como se fossem leões; balindo, como carneiros; ou gritando, como guerreiros. E ainda outros “caíam no Espírito”.

À primeira vista, tais manifestações impressionam.

Impressionam apesar de não contarem com o necessário respaldo bíblico. Entretanto, não podemos nos deixar arrastar pelas aparências nem pelo exotismo desses “fenômenos”. Temos de posicionar-nos segundo a Bíblia que, não obstante os modismos e ondas, continua a ser a nossa única regra de fé e conduta.

II - O Cair no Espírito na Bíblia

Nas Sagradas Escrituras, o cair no Espírito não chega a ser um fenômeno; é mais uma reação reverente diante do sobrenatural. Registra-se apenas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, 11 casos de pessoas que caíram prostradas, com o rosto em terra, em sinal de adoração a Deus. E tais casos não se constituem num histórico; são episódicos isolados. Não têm foro de doutrina, nem argumentos para se alicerçar um costume, nem para se reivindicar uma liturgia; não podem sacramentar alguma prática. Afinal, reação é reação; apesar de semelhantes, diferem entre si. Como hão de fundamentar dogmas de fé?

Verifiquemos, pois, em que circunstâncias deram-se os diversos casos de cair por terra nos relatos bíblicos.

1. A força de uma visão nitidamente celestial

As visões, na Bíblia, tinham uma força impressionante. Agitavam, enfraqueciam e até deitavam por terra homens santos de Deus. Que o diga Daniel. Já encerrando o seu livro, o profeta registra esta formidável experiência: “Fiquei, pois, eu só e vi esta grande visão, e não ficou força em mim; e transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e ouvindo a voz das suas palavras, eu caí com o meu rosto em terra, profundamente adormecido” (Dn 10.8,9).

Em sua primeira visão, Ezequiel também se assusta com o que vê. Ele se apavora: “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isso, caí sobre o meu rosto” (Ez 1.28). Sem liturgia, ou intervenção humana, o profeta prostra-se todo. E quem não haveria de se prosternar? Mesmo o mais forte dos homens, não se agüentaria diante de tamanho poder e glória. Recurvar-se-ia; lançar-se-ia com o rosto em terra.

Mais tarde, encontraremos Ezequiel noutro caso de prostração: “E levantei-me e saí ao vale, e eis que a glória do Senhor estava ali, como a glória que vira junto ao rio Quebar; e caí sobre o meu rosto” (Ez 3.23). Quem não cairia ante as singularidades da glória de Deus? Quem a resistiria?

Já no final de seus arcanos, Ezequiel vê-se constrangido a comportar-se de igual maneira: “E o aspecto da visão que vi era como o da visão que eu tinha visto quando vim destruir a cidade; e eram as visões como a que vira junto ao rio Quebar; e caí sobre o meu rosto” (Ez 43.3).

Nesses casos, as visões divinas foram tão fortes que levaram tanto Ezequiel como Daniel a caírem por terra. Noutras ocasiões, porém, a ocorrência de visões, igualmente poderosas, não provocou alguma prostração. Haja vista o caso de Isaías. Embora se mostrasse aterrorizado e compungido com a visão do trono divino, não se menciona ter o profeta caído por terra. Isto significa que as experiências, embora semelhantes, possuem suas particularidades e idiossincrasias. Isto é: cada experiência, ou encontro com Deus, é única. Seria tolice pretender repeti-las para que a sua repetição adquirisse foros de doutrina.

2. O impacto de um encontro com Deus

Além das visões, certos encontros com Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, levaram à prostração. Mencione-se, por exemplo, o que aconteceu a Saulo no caminho de Damasco. O encontro com Jesus foi tão formidável, que forçou o implacável perseguidor a cair por terra, e a reconhecer a autoridade e a soberania do Filho de Deus: “E caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.4).

Como nos casos anteriores, nada havia sido programado. Saulo foi levado a recurvar-se em virtude da sublimidade do Senhor Jesus. Noutras ocasiões, porém, os encontros com Deus deram-se de maneira suave. A entrevista de Natanael com Jesus é um exemplo bastante típico dessa suavidade tão santa. O que também dizer do encontro de Gideão com o anjo do Senhor? Ou do encontro de Jeremias com Jeová? Este encontro veio na medida certa; veio de acordo com o caráter suave e melancólico do profeta. Mas tivesse Jeremias o temperamento colérico de Paulo, certamente o Senhor teria agido com impacto para que o vaso fosse quebrado e moldado conforme a sua vontade. Como se vê, as experiências variam de acordo com as circunstâncias e a personalidade das pessoas envolvidas no plano de Deus.

3. Diante da autoridade de Cristo

A autoridade do nome de Cristo é mais que suficiente para fazer com que todos os joelhos dobrem-se diante de si. Aliás, chegará o momento em que todos os seres, quer nos céus, quer na terra, quer sob a terra, hão de se curvar diante da infinita grandeza do nome do Senhor Jesus: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.9,10).

Na noite de sua paixão, o Senhor demonstrou quão grande era a sua autoridade: “Quando, pois, (Jesus) lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra” (Jo 18.6). Ao contrário dos casos anteriores, nessa passagem quem cai por terra são os ímpios. Recurvam-se estes não em sinal de reverência a Deus, mas em razão da autoridade e soberania irresistíveis de Cristo.

Caso semelhante ocorreu com Ananias e Safira. Ambos caíram por terra em decorrência de sua iniqüidade: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias, ouvindo estas palavras caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram” (At 5.3-5).

Casos como esses não são raros. Em nossos dias, muitos são os ímpios que, por se levantarem contra os escolhidos do Senhor, caem por terra e, às vezes, fulminados.

Noutras ocasiões, porém, o Senhor revelou-se de maneira tão suave, que se faz homem diante dos homens. Que encontro mais doce do que aquele que se deu junto ao poço de Jacó? O Senhor revela-se de maneira surpreendentemente afável à mulher samaritana. E a experiência de Nicodemos? Ou a de Zaqueu?

III - Como os Legítimos Representantes de Deus Portaram-se Quando Alguém Caía por Terra?

Ao contrário dos que hoje portam-se como deuses diante de virtuais casos de prostração, os apóstolos de Cristo jamais aceitaram tal deferência. Em todas as instâncias, procuravam sempre glorificar ao nome do Senhor. Em casos semelhantes, até os mesmos anjos agiram com reconhecida e santa modéstia.

Tendo Pedro chegado à casa de Cornélio, a primeira reação deste foi cair de joelhos diante do apóstolo. “Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que também sou homem” (At 10.25,26). O que fariam os astros do evangelismo dos dias atuais? Humilhar-se-iam como o apóstolo? Ou usariam o evento para incrementar o seu marketing pessoal?

Mesmo um poderoso anjo não se aproveitou da ocasião para atrair a si as glórias devidas somente a Deus. O relato é de João: “Prostrei-me aos seus pés para o adorar. E disse-me: Olha, não faças tal, porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap 22.8,9).

O anjo bem sabia que o apóstolo prostrara-se aos seus pés por uma circunstância bastante especifica: não há ser humano que não se extasie diante do sobrenatural. A aparição de um ente celestial sempre perturbou os pobres mortais. Nos dias dos juízes, acreditava-se que a visão de um anjo significava morte certa. Por isso, a primeira reação de uma pessoa ao ver um anjo era curvar-se diante do ser angelical. Quem poderia resistir a tanta glória?

Os anjos, porém, recusavam tal deferência. Houve ocasiões em que o anjo do Senhor aceitou elevadas honrarias. Como conciliar tais questões? No Antigo Testamento, sempre que isso ocorria, era devido a presença de um ser especial, que alguns teólogos não vacilam em apontar como a pré-encarnação de Cristo. De uma forma ou de outra, os anjos eram santos o suficiente para agirem com modéstia e humildade, tributando a Deus todo poder e toda a glória.

Que esta também seja a nossa postura! Quando, por alguma circunstância, alguém cair a nossos pés, levantemo-lo para que tribute a Deus, e somente a Deus, toda a honra e toda a glória. E jamais, sob hipótese alguma, induzamos alguém a prostrar-se com o rosto em terra, pois isto contraria a ética e a postura que o homem de Deus deve ter.

IV - Nas Efusões do Espírito Santo de Atos dos Apóstolos Houve Casos de Prostração?

Na ânsia por justificar o cair por terra que, como já dissemos tem de ser visto como episódio e não como histórico, muitos teólogos chegam a colocar tal reação como se fora uma das evidências da plenitude do Espírito Santo. Que pode haver prostração quando da efusão do Espírito, não o negamos. Pode haver, mas não tem de haver necessariamente, nem precisa haver para que se configure o derramamento do Espírito Santo. A prostração não pode ser vista como evidência, mas como uma reação ocasional e esporádica.

Nos diversos casos de efusão do Espírito Santo, nos Atos dos Apóstolos, não se observou algum caso de prostração. No dia de Pentecoste, segundo no-lo notifica o minucioso e detalhista Lucas, estavam todos assentados no cenáculo (At 2.2). Na casa de Cornélio, onde o Espírito foi derramado pela primeira vez sobre os gentios, também não se observou o cair por terra (At 10.44-47). Entre os discípulos de Éfeso também não se registrou alguma prostração (At 19.6).

Em todos esses casos, porém, a evidência inicial e física do batismo no Espírito Santo fez-se presente. Conclui-se, pois, que não se deve confundir evidência com reação. A evidência é a mesma em todos os que recebem a plenitude do Espírito Santo. A reação, todavia, varia de pessoa para pessoa.

Mesmo quando o lugar santo tremeu, não se observou caso algum de prostração (At 4.31). Poderia ter havido? Sim! Mas não necessariamente.

Conclusões

Daquilo que até agora vimos acerca do “cair no Espírito”, podemos tirar as seguintes conclusões, tendo sempre como base as Sagradas Escrituras:

1. Não se pode realçar a experiência, nem guindá-la a uma posição superior à da Palavra de Deus. A experiência é importante, mas varia de pessoa para pessoa; cada experiência é uma experiência; tem suas particularidades. A experiência tem de estar submissa à doutrina, e não há de modificar, por mais extraordinária que seja, nenhum artigo de fé.

2. O cair por terra não pode ser visto nem como evidência da plenitude do Espírito Santo, nem como sinal de uma vida consagrada. A evidência do batismo no Espírito Santo são as línguas estranhas; e a vida consagrada tem como característica o fruto do Espírito. O cair por terra pode ser admitido, no máximo, como reação esporádica de alguma visitação dos céus. Se provocado, ou repetido, deixa de ser reação para tornar-se liturgia.

3. Caso ocorra alguma prostração, deve-se fazer as seguintes perguntas: 1) Qual a sua procedência? 2) Teve como objetivo promover o homem ou glorificar a Deus? 3) Foi usada para catalisar a atenção dos presentes? 4) Foi provocada por sopros, toques ou por algum objeto lançado no auditório? 5) Houve sugestão coletiva? 6) Prejudicou a boa ordem e a decência da igreja? 7) Conta com o respaldo bíblico suficiente? 8) Tornou-se o centro do culto?

4. Devemos estar sempre atentos, pois o adversário também opera sinais espetaculares com o objetivo de enganar os escolhidos: “Surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24.24).

5. Nos diversos exemplos de prostração que fomos buscar na Bíblia, observamos o seguinte: Os personagens que se prostraram, ou foram prostrados, em virtude de alguma experiência sobrenatural, caíram para frente, e não para trás, como está ocorrendo hoje em algumas igrejas. Não era algo programado, nem ministro algum induzira-os a cair. Ou seja: ninguém precisou soprar neles ou neles tocar para que caíssem. Tais modismos têm levado a irreverência e a bizarria ao seio do povo de Deus. Há alguns que se tornaram tão ousados que jogam até os seus paletós a fim de provocar prostrações coletivas. Isto é um absurdo! É antibíblico!

6. Os casos de prostração narrados na Bíblia deram-se em virtude da reverência e temor que os já citados personagens sentiram ao presenciar a glória divina. No Novo Testamento, o termo usado para prostração é pesotes prosekinsan que, no original, significa: cair por terra em sinal de devoção. Em Apocalipse 5.14, a expressão grega aparece para mostrar os anciãos prostrados aos pés do Cristo glorificado.

7. Voltemos à questão. Pode acontecer prostração numa reunião evangélica? Pode! Mas não tem de acontecer necessariamente; pode, mas não precisa acontecer, nem ser provocada. Caso aconteça, deve ser encarada como reação e não como fato doutrinário. John e Charles Wesley, por exemplo, experimentaram um poderoso avivamento, mas jamais elevaram suas experiências à categoria de doutrina. As heresias nascem quando se supervaloriza a experiência em detrimento da doutrina. Não podemos nos esquecer de que algumas das mais notáveis heresias deste século, como a Igreja Só Jesus, nasceu em pleno período de avivamento.

8. De uma certa forma, todo avivamento provoca extremismos. Cabe-nos, porém, buscar o equilíbrio tão necessário à Igreja de Cristo. Era o que ocorria em Corinto. Não resta dúvida de que os irmãos daquela comunidade cristã haviam recebido uma forte visitação dos céus. Todavia, tiveram de ser doutrinados e disciplinados. A esses irmãos, escreveu Paulo: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos” (1 Co 14.32,33).

Finalmente, jamais devemos abandonar a Bíblia. Ênfases, como o cair no Espírito, hão de surgir sempre. Não devemos nos impressionar com elas; tratemo-las com o devido equilíbrio. Pois o equilíbrio bíblico e teológico há de manter a igreja de Cristo em permanente avivamento. E o verdadeiro avivamento não extingue o Espírito, mas sabe como evitar os excessos.

Fonte: Claudionor Corrêa de Andrade - Revista Defesa da Fé
Autor : Dr. Paulo Romeiro

Muitas pessoas nos perguntam, freqüentemente, sobre uma Bíblia controvertida chamada Bíblia Dake, publicada em 2009 pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus), em parceria com a Editora Atos.

Assim, creio que as informações mais confiáveis, em português, sobre essa Bíblia de Estudos e Referências podem ser encontradas num livro publicado pela própria CPAD, como segue abaixo:

Hank Hanegraaff. Cristianismo em Crise. Rio de Janeiro. CPAD. 2006. As citações a seguir sobre a Bíblia Dake foram retiradas deste livro conforme indicam as páginas onde elas aparecem.

Página 128: Devemos observar, nessa conjuntura, que o livro de Gênesis nunca retrata o homem como alguma espécie de soberano autônomo, e, sim, como um mordomo encarregado de cuidar da criação de Deus. A delegação, tal como a entendemos em nossa cultura, deixa inequivocamente claro que apesar de Deus ter conferido à humanidade um domínio relativo sobre a criação terrestre (cf. Gn 1.26.28), os seres humanos continuam sendo meros mortais, responsáveis pelo cuidado de tudo quanto Deus lhes confiou.

Mas os mestres da Fé substituem o ponto de vista bíblico do domínio, onde o homem assume a posição de autoridade delegada, pelo conceito antibíblico de deificação. Benny Hinn torna-se particularmente absurdo nesse aspecto, chegando a assumir ares de especialista quanto ao sentido hebraico da palavra domínio. De acordo com Hinn:

Adão era um superser quando Deus o criou. Não sei se as pessoas sabem, mas ele foi o primeiro super-homem que realmente viveu. Em primeiro lugar, as Escrituras declaram nitidamente que ele deveria ter domínio sobre as aves do ar, sobre os peixes do mar – o que significa que costumava voar. Naturalmente, como poderia ter domínio sobre as aves, sem ser capaz de fazer o que elas fazem? A palavra “domínio”, no hebraico, declara nitidamente que se você tem domínio sobre um sujeito, pode fazer tudo que ele faz. Em outras palavras, se esse sujeito fizer algo que você não pode fazer, então você não terá domínio sobre ele. E estenderei essa prova ainda mais além. Adão não somente voava, mas alcançava o espaço. Bastava-lhe um pensamento para chegar à lua.

Benny Hinn, programa “Praise the Lord” pela TBN (26 de setembro de 1991). Hinn parece ter derivado essa idéia de Finis J. Dake. Dake’s Annotated Reference Bible (Lawrenceville, GA: Dake Bible Sales, 19663), Velho Testamento 1, coluna 4 (nota sobre Gn 1.26), 619, col. 1, nota 2; e Dake, God’s Plan for Man (Lawrenceville, GA: Dake Bible Sales, 1977 [original de 1949], 35. Esta nota do capítulo 9 do livro Cristianismo em Crise encontra-se na p. 437 como nota 34.

Página 278:

Finis Dake, que exerceu profunda influência sobre muitos curandeiros da Fé, chegou mesmo a dizer: Germes patogênicos, que são rigorosamente aliados da obra dos demônios... são, na realidade, agentes materiais de Satanás, que corrompem os corpos de suas vítimas. Nenhum remédio já foi encontrado que possa curar as enfermidades fora do sangue de Jesus Cristo. Nenhuma droga pode curar uma única enfermidade. Qualquer médico honesto admitirá que não há poder curativo nos medicamentos.

Tão Fácil Quanto 1-2-3

É tudo tão fácil como um, dois, três. Primeiro, se você está enfermo, a falta é toda sua. Segundo, a solução não é algum medicamento.

Até mesmo mestres da Fé mais circunspectos do que Finis Dake continuam dizendo, basicamente, a mesma coisa: “Os medicamentos não são o que Deus tem de melhor ou de mais alto. Use sua fé e não precisará de medicação”, afirma Frederick Price.

E acrescenta: “Os médicos estão combatendo os mesmos inimigos que nós; a única diferença é que eles estão usando palitos de dentes e nós bombas atômicas!”.

Em terceiro lugar, se você acha que não tem fé suficiente, Deus levantou uma classe especial de curandeiros da Fé, ungidos, que podem fazer o trabalho por você.

Páginas 326-327:

1. Bíblias de Estudo

Existem no mercado, hoje em dia, algumas excelentes Bíblias de estudo, incluindo a Student Bible, a NIV Study Bible e The International Inductive Study Bible. (Em português temos, entre outras, A Bíblia Explicada, Bíblia de Estudo Vida Nova, a Bíblia com anotações de Scofield e a recém-lançada Bíblia Pentecostal).

Também existem algumas Bíblias de estudo de qualidade questionável, que não recomendamos como a Word Study Bible: Kenneth Copeland Reference Edition Bible e a Dake’s Annotated Reference Bible.

Talvez a pior coletânea de falsos ensinos seja a popular Dake’s Annotated Reference Bible. “Deus... vai dum lugar para outro num corpo com o de todas as outras pessoas”, diz Dake. Ainda sobre Deus, Dake afirma que Ele é apenas um “ser de tamanho ordinário. Ele usa roupas... come... descansa... habita numa mansão, numa cidade localizada num planeta material chamado Céu”.

Logo na primeira página do Novo Testamento, Dake escreveu que Jesus “tornou-se Cristo, ou seja, o ‘Ungido’, 30 anos depois de ter nascido de Maria”. Ora, qualquer pessoa que tenha cantado ou ouvido algum hino de Natal com fundamento bíblico está familiarizada com o trecho de Lucas 2.11, que diz: “Pois na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.

Página 347:

O Credo Atanasiano, largamente usado por toda a Igreja, é um dos credos clássicos do cristianismo. Costuma se dizer que nenhuma outra declaração da Igreja primitiva estabelece, tão incisivamente, e com tanta claridade, a profunda teologia implícita na afirmação bíblica de que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo.

Seu propósito primário – juntamente com o dos outros credos universalmente aceitos – era refutar as heresias que tinham surgido na Igreja. Uma das funções óbvias do Credo Atanasiano era contrabalançar visões desviadas sobre a Trindade, como por exemplo o triteísmo.

O Credo Atanasiano é especialmente significativo em face do fato que os ensinos do triteísmo, anunciados pelos hereges da Igreja medieval, têm vindo novamente à superfície nos ensinos de pessoas como Benny Hinn e em publicações como a Bíblia Anotada de Dake.

BREVE HISTÓRICO DE FINIS J. DAKE

O pesquisador Les Brown relata alguns fatos importantes sobre Dake:

Finis Jennings Dake nasceu em 1902 e morreu em 1987. Seu filho Finis Junior diz que levou sete anos de constante trabalho para completar as 35 mil notas incluídas na Bíblia de 1.400 páginas.

É uma telogia sistemática virtual e uma compilação dos pontos de vista e doutrinas de Dake. Dake foi ordenado pela Assembléia de Deus do Texas. Por um tempo, ele fez trabalhos evangelísticos em Oklahoma.

Mais tarde, mudou-se para Zion, no Estado de Illinois, onde as coisas se complicaram depois de um escândalo que envolveu uma garota de 16 anos de idade.

O jornal Daily Tribune (Tribuna Diária) de Chicago de 27 de maio de 1936, informou que “Uma acusação formal retornada em fevereiro passado em Milwaukee, alega que no dia 23 de abril de 1935, Dake levou Emma Barelli, de 16 anos de idade, de Kenosha, de sua cidade natal para o Leste de St. Louis, com propósitos imorais” (p. 1).

No dia seguinte o jornal informou que Dake deu entrada em hotéis de Waukegan, Bloomington e Leste de St. Louis com a garota sob o nome de Christian Anderson e esposa. Dake, segundo os investigadores do governo, disse que pegou a menina que estava pedindo carona na estrada e ela insistiu para que a levasse até East St. Louis, onde ele daria palestras bíblicas nas comunidades locais.

Dake negou que qualquer ato imoral tivesse acontecido, dizendo: “Eu a levei até lá... mas, não houve qualquer imoralidade. Eu queria arranjar um trabalho para ela” (Jornal Chicago Daily Tribune, 28 de maio de 1936, p. 17).

Quando Dake foi levado a julgamento em fevereiro de 1937, ele se entregou à misericórdia do tribunal ao declarar-se culpado da acusação de violar a lei Mann Act (uma lei americana de 1910 que proíbe transportar menores de 18 anos de idade além das fronteiras estaduais para atividades sexuais).

Ele foi sentenciado a seis meses de reclusão na Casa de Correções de Milwaukee. Dake admitiu ter trocado caricias com a garota, mas, novamente, negou que quaisquer relações impróprias tivessem ocorrido entre ele e ela.

O jornal News-Sun de Waukegan informou: “Se tivesse sido declarado culpado por um processo de júri, o reverendo Dake teria sido condenado a uma sentença máxima de 10 anos numa prisão federal e uma multa de 10 mil dólares” (10/02/1937).

Dake chamou a sentença de prisão de “férias” e disse que usaria o tempo de prisão para pregar aos presos e dedicar o tempo para escrever um comentário sobre a Bíblia.

As Assembléias de Deus cortaram seus relacionamentos com Dake e ele mais tarde uniu-se a Igreja de Deus em Cleveland, Tennessee. Nunca ficou claro como a sua união com a Igreja de Deus terminou, mas Dake, eventualmente, tornou-se independente de qualquer igreja (www.learntheology.com/problems_dake_bible.html. Acessado em 28/12/2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sempre que tenho oportunidade, em congressos acadêmicos ou nas conferências em geral, falo dos avanços que a CPAD tem feito na área editorial. Sinto-me honrado de ter um livro publicado por esta instituição e de colaborar com artigos quando solicitado.

Meu desejo é que a CPAD continue sendo para o mundo pentecostal (que é grande), um exemplo de ética cristã e equilíbrio doutrinário na produção de literatura cristã.

Infelizmente, a Bíblia Dake, que eu conheço e leio, para fins de pesquisas, desde 1980, não ajuda neste propósito. Apesar de toda a filtragem feita no processo de tradução, causou-me surpresa a CPAD publicá-la. Entretanto, quero ajudar no que for preciso para que a CPAD continue sendo um porto seguro no campo da literatura.

666 - O Número da Besta

prof. Paulo Cristiano

Uma análise crítica das interpretações

“Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Apocalipse 13.18)

As pessoas esperavam o fim do mundo em 1666, que seria a soma do fim dos mil anos (quando então Satanás seria solto conforme Apocalipse 20.3), com o terrível número da besta. Mas para decepção dos prognosticadores de plantão, o fim não veio. Entretanto, para quem pensa que a superstição e especulação em torno do 666 ficaram restritas à Idade Média está muito enganado. Estes algarismos apocalípticos continuam em alta, principalmente nos meios religiosos. E, diga-se de passagem, que não só as seitas protestantes, mas até mesmo católicos, arriscam um palpite cabalístico em cima deste misterioso número, como podemos ver no livro do padre Léo Persch. A interpretação vem de uma tal Vassula, vidente católica, que diz receber visões e orientações de Jesus e Maria a respeito do fim dos tempos. Numa dessas interpretações ela associa o anticristo com a maçonaria:

“Com a inteligência iluminada pela luz divina consegue-se decifrar o número 666 o nome de um homem, e esse nome, indicado por tal número é o anticristo. [...] O número 666 indicado três vezes , isto é, multiplicado por três, exprime o ano de 1998. Nesse período histórico, a franco-maçonaria, aliada com a maçonaria eclesiástica, conseguirá o seu grande intento...” [1]

Contudo, a fama do 666 extrapolou os limites da religião e foi parar na boca dos profanos. “The Number of the Beast” é a faixa musical do grupo Iron Maiden. Uma música com letras satânicas. A propósito, este é o número preferido dos satanistas e virou até nome de revista em Marselha/França. [2]

Sem dúvida, ultimamente, há muito barulho não só em torno deste número como também do nome “besta”, que no Brasil ganhou fama com um automóvel, a van, Besta, fabricada por uma montadora coreana. Já em Bruxelas um computador gigantesco foi batizado com o mesmo nome. [3]

Há alguns anos, a popularização do código de barras fez brilhar o imaginário religioso. Começou a divulgar nos meios cristãos que este código trazia nas extremidades e no meio de modo oculto o número 666, o qual seria marcado na mão direita dos consumidores. [4] Contudo, isto já é coisa do passado, foi abandonado de vez, agora a coqueluche do momento é o chamado “bio-microchip”. Criado pelo Dr. Carl Sanders, é atualmente produzido por várias empresas inclusive a Motorola para o Mondex SmartCard.

Certos periódicos afirmaram que os cientistas que trabalharam neste projeto descobriram que o melhor lugar do corpo humano para ser implantado o tal “chip” é na testa e na mão direita. [5] Seria essa a marca da besta ou mais um boato sensacionalista? Seja como for, o caso é que esta notícia já está causando pânico em alguns meios evangélicos. [6]

De fato muita contra-informação pode ser encontrada, especialmente na internet sobre este assunto.[7] Apocalipse 13, tem trabalhado com o imaginário de cristãos e não cristãos desde a época pós-apostólica. Muito se tem escrito sobre isso, sem contudo, haver consenso. Este trecho foi assunto nos escritos de alguns vultos da patrística, mereceu atenção no pensamento dos reformadores e chegou até ao nosso turbulento século XIX com força total.

O caso é que para muitos isso está se transformando numa verdadeira esquizofrenia escatológica. Até mesmo o próprio versículo que traz o número, dizem esconder o 666, isto é, 18 = 3 x 6 (6+6+6=18) . [8]


COISAS DO ORIENTE

É notório a todos que literaturas orientais, principalmente as antigas, quando vertidas para o ocidente, tende a apresentar não só dificuldades lingüísticas. [9] Isso porque, quando lemos tais livros não estamos apenas lendo simples caracteres, mas absorvendo também seus costumes, crenças, filosofias, enfim, toda uma bagagem cultural diferente e estranha a nós ocidentais. E se tratando de matéria religiosa, a coisa tende a complicar ainda mais. A Bíblia, o livro dos cristãos, é uma literatura também oriental com uma riquíssima linguagem: simbólica, poética e cultural, não fazendo exceção à regra.

Não obstante, há de se esclarecer, que a Bíblia enquanto mensagem de salvação, no essencial, é de fácil compreensão, ou parafraseando Isaías, “até mesmo os loucos não poderão errar esse caminho” (Isaías 35.8), o qual é Jesus Cristo (João 14.6).

Mas à parte da mensagem essencial, ou Evangelho, existem as exceções que se encontram no livro sacro. Essas são passagens não tão claras, que por vezes envolvem o conhecimento do contexto sócio-cultural e religioso da época para uma real compreensão. Quando não, são passagens no campo das profecias a serem ainda cumpridas num futuro próximo. Quanto a esta última, não raro poucas passagens merecem tanta atenção quanto Apocalipse 13.16-18, quando o assunto é especulação.


ESPECULAÇÕES ESCATOLÓGICAS

Os intérpretes que se aventuram a decifrar o número e o nome da besta geralmente procuram se basear em grandes personagens da história mundial para impingir o famigerado título bestial.

As interpretações, como não poderiam deixar de ser, são as mais variadas possíveis assim como os métodos utilizados para decifrar o enigma apocalíptico.

No afã de se conseguir tal intento às vezes, os pressupostos empregados forçam tais intérpretes (até mesmo os mais cautelosos) a sair fora do eixo bíblico, tornando suas interpretações um verdadeiro malabarismo, destituídas de qualquer análise contextual mais lata. Os princípios fundamentais da boa exegese bíblica são deixados de lado em detrimento de interpretações forçadas oriundas de uma mentalidade pré-conceituosa. A história mundial é forçada ao máximo, para não dizer adulterada, a fim de se encaixar em pressupostos doutrinários.


A MATEMÁTICA COMO FERRAMENTA

Os estudiosos em geral entendem que João estava usando a gematria, um sistema criptográfico (ato de em escrever em cifra ou em código) que consiste em atribuir valores numéricos às letras.

É sabido que o latim, o grego e o hebraico usavam letras em lugar de algarismos. Assim as letras funcionavam como números. Troca-se as letras pelos números e consegue-se chegar ao famigerado 666.

Na época de João este era um método vulgar. Foi descoberto pela arqueologia o nome de moças em valores numéricos. Na cidade de Pompéia sobre um muro aparece uma inscrição: "Phílo hes arithmós phme", (amo aquela cujo número é phme, onde ph=500 + m = 40 + e = 5, total = 545)."Eu amo aquela cujo nome é 545”. Tanto, pagãos como judeus e cristãos usavam o simbolismo numérico. Os “Oráculos Sibilinos” do século II d.C., apontava o valor do nome de Cristo que daria 888. Já os gregos invocavam o deus Júpiter cujo número do nome era 717. Os gnósticos viam no número 365 algo de místico, pois transferidos para o alfabeto grego traduzia a palavra “Abrasaks”. [10]

Por seu turno Clemente e Orígenes jogavam com o significado do número 318 que seria a abreviação do nome de Cristo - IHT. [11]


A BESTA NOS ESCRITOS CRISTÃOS PRIMITIVOS

Parece que o primeiro escritor cristão a tentar decifrar a besta do apocalipse usando este método foi Ireneu em sua obra "Adv. Haer. V, 30,3". Ele sugeriu vários nomes dentre os quais Lateinos (Latino) e Teitan (Titã). A transliteração destes nomes somados dá o valor 666.

Também o nome “Neron Caesar” (César Nero) em grego vertido para o hebraico dá 666:

N V R N R S Q

50 + 6 + 200 + 50 + 200 + 60 + 100 = 666


Em forma latina (tirando-se o “n”) o número varia para 616. Parece que esta era a interpretação mais convincente para os cristãos primitivos. Tanto é que dois pequenos manuscritos do Apocalipse, que hoje já não mais existem, trazia 616 ao invés de 666. [12]

Com a chegada da Reforma protestante, alguns reformadores viam no papa, a figura do anticristo, a besta do Apocalipse. [13] A propósito a palavra Italika Ekklesia daria o número 666. O que faziam muitos pensar que a besta sairia dessa igreja. Lutero chegou a conjecturar “São seiscentos e sessenta e seis anos; é o tempo que já dura o papado secular”. [14] Ainda outros nomes como Signal da Crvx, Latinvs Rex Sacerdos e Ioannes Pavlvs Secvndo também dão 666.

Em seu livro “Guerra e Paz” , Leon Tolstoi especula em torno da idéia de Napoleão ser a besta com o número 666. [15] O teólogo Petrelli aplicou esse número a Joseph Smith. Diocleciano, Lutero, Calvino, Hitler e outros foram igualmente vítimas dos matemáticos do Apocalipse. O último grande nome cogitado para engrossar essa lista foi o senhor Bill Gates, dono da Microsoft, que segundo dizem também daria 666. [16]


O NÚMERO DA BESTA NA VISÃO DAS SEITAS

Como já dissemos, a Bíblia de fato possui alguns pontos obscuros. As seitas aproveitam essa “dificuldade”, usando justamente essas passagens para extrair delas novas revelações, até então desconhecidas para o mundo. As seitas alimentam esta utopia teológica baseadas na suposição de que Deus esteja através delas revelando “mistérios” para os tempos do fim. Isso é sintomático entre esses movimentos. Essa patologia teológica incurável em algumas seitas tem feito especulações absurdas em torno do número 666. Vejamos algumas:


1. Adventistas do Sétimo Dia

“O Papa é a Besta”:

Para os adventistas o Papa é inquestionavelmente o anticristo. Embora não se possa achar nada de concreto nos escritos de Ellen G. White [17] sobre este cálculo, alguns pioneiros adventistas como Uriah Smith, em seu livro “As profecias do Apocalipse”, já trazia o cálculo do número 666 aplicando-o ao papa. [18]

Fazem isso partindo da premissa de que o papa mudou a lei de Deus, principalmente o quarto mandamento, então chegam a conclusão que ele deve ser o anticristo conforme fala Daniel 7.25.

Para confirmar tal fato era preciso forjar uma ligação de seu nome com o número 666.

Como não conseguiram o resultado usando o nome de nenhum papa, inventaram um título latino que supostamente o papa usaria em sua Tiara, o “VICARIUS FILII DEI” (Vigário do Filho de Deus). Daí a famosa sominha que passou a fazer parte da teologia adventista até hoje:



V I C A R I V S F I L I I D E I

5 + 1 + 100+1+5+ 1+50+1+1 + 500+ 1= 666

Acontece, porém, que esta soma enfrenta algumas dificuldades insuperáveis:

A primeira delas é que a soma correta não dá 666, mas 664. Veja o computo correto:

5+1+100+ IV + 1+50+1+1 + 500+ 1= 664 IV é = 4 e não O 5, COMO XL é = 40 e não 60


A segunda questão é que isto não é o “nome de um homem”, mas o título de uma suposta função que aquele líder católico exerce.

Outrossim, temos que levar em consideração que não se pode provar que tal título existia de fato na Tiara papal. E ao que tudo indica, nem mesmo este corresponde ao nome correto do título, o qual seria corretamente chamado de “Vigário de Cristo”.

Outra, o Apocalípse foi escrito em grego e não em latim, conseqüentemente o cálculo deveria ser feito por estas letras. É temeroso acreditar que os os destinatários de João conhecessem o latim já que este era um idioma usado apenas nos territórios do Ocidente Europeu.

Demais disso, pode-se até usando este mesmo cálculo, encaixar a profetisa dos adventistas nele:

E L L E N G O U L D W H I T E
50+50+ 5+50+500 5+5 + 1 = 666 – o número da besta.

Onde “w” é = v,v = 5,5 (tanto é que no nome “Walter” o “W” é lido com som de “V”)

Diante disso, atualmente, muitos teólogos adventistas já não mais associam o número da besta com o título papal. [19]


2. Testemunhas de Jeová


“A Besta é sistema político do mundo”:

Depois de mudarem diversas vezes suas doutrinas a respeito do Apocalipse, as Testemunhas de Jeová chegaram a conclusão no livro “Revelação – seu grande clímax está próximo” [20] que a besta seria apenas o mundo em sua forma organizada politicamente, sendo a ONU a imagem da besta. Dizem: “Assim, como seis é inferior a sete, assim 666 – seis em três estágios – é um nome apropriado para o gigantesco sistema político do mundo.”

É claro que esta interpretação é descabida e vai contra o próprio texto que diz que é o “nome de homem” e não de um sistema político. É um interpretação sem pé nem cabeça!

O que muitos não sabem é que hoje a ONU já não é mais vista como a imagem da besta. Essa mudança ocorreu porque a “Sociedade Torre de Vigia”, tentou se filiar a ONU. É a velha tática da seita de mudar constantemente sua doutrina! [21]


3. “Movimento do Nome Sagrado”

“O nome Jesus é a Besta”

A principal preocupação deste movimento é com o homônimo escrito e oral do nome sagrado: Yahweh para Deus e, Yahshua para Jesus. Desta ênfase deriva o nome deste Movimento, cujos representantes principais aqui no Brasil são conhecidos como “Testemunhas de Yehoshua”.

Como a seita detesta o nome Jesus, resolveram encontrar o equivalente numérico para o nome fatídico da besta em cima do nome do Filho de Deus. Demonstram isso da seguinte maneira:

I E S U S C R I S T V S F I L I I D E I (Jesus Cristo Filho de Deus)

1 + 5 + 100 + 1 + 5 + 1 + 50 + 2 + 500 + 1 = 666

Em primeiro lugar, gostaríamos de lembrar que IESVS CRISTVS FILII DEI é IESVS CRISTVS + FILII DEI. Em segundo lugar, IESVS CRISTVS sozinho equivale a 112. Em terceiro lugar, FILII (genitivo masculino singular) deveria ser FILIVS (nominativo masculino singular). Assim sendo, teríamos:

F I L I V S D E I

1 + 50 + 1 + 5 + 500 + 1 = 558

I E S U S C R I S T V S = 112 + F I L I V S D E I = 558 = 670

670 é diferente de 666

Percebemos, portanto, a necessidade da presença de títulos ou apostos – sem contar com a presença de FILII, ao invés da forma correta FILIVS – para se chegar ao número 666. [22]

Outrossim, o restante da expressão “Filho de Deus” não faz parte do nome, mas é um título.

Outros, no entanto, levados por uma obstinação mórbida, preferem usar apenas o nome “Jesus” e transliterá-lo em caracteres hebraicos, fazendo valer 666.

Esse foi o artifício exposto por outra variante deste movimento conhecidos como "Comunidade Judaica Messianitas":

J não há essa letra em hebraico = -

E não há valor numérico em hebraico = -

S vale 60 – 0 = 6

U vale 6 = 6

S vale 60 – 0 = 6 [23]

Não é necessário ser teólogo para perceber que os erros e as interpretações forçadas neste cálculo estão às escâncaras. Primeiro, porque a soma destes números daria 126 e não 666. Segundo, porque ele faz arbitrariamente 60 valer 6 e depois usa uma palavra portuguesa transformando-a em numerais hebraicos. Isso é simplesmente ridículo!


QUEM É A BESTA AFINAL?

Há comentaristas que acreditam que a figura de Nero preenche perfeitamente o cumprimento da profecia. [24] Contudo, o Apocalipse é uma revelação para o futuro. O alcance dos eventos descritos ali terão um cumprimento bem mais amplo do que qualquer um já visto na história. Neste caso, acredito que Nero, pode ser visto apenas como mais um tipo do anticristo e não o próprio anticristo.

Por outro lado há os que enxergam neste número apenas um simbolismo da imperfeição humana. O número da besta não é só número de homem, ou seja, do homem terreno em contraste com o divino, mas também significa a imperfeição e rebelião contra Deus. Satanás sempre quis imitar a Deus. Como o número de Deus é sete, o número da perfeição, o inimigo de Deus também terá seu número. Enquanto Deus marca nas testas de seus servos o seu nome, a Besta deixará sua marca naqueles que a servirão. Significando que o anticristo procurará chegar a perfeição, mas sempre ficará aquém dela.

Mas o que essa sabedoria e esse conhecimento permitem que os crentes façam? A passagem diz que podemos "calcular". Calcular o quê? Podemos calcular o número da besta.

O principal propósito de alertar os crentes sobre a marca é permitir que eles saibam que, quando em forma de número, o "nome" da besta será 666. Assim, os crentes que estiverem passando pela Tribulação, quando lhes for sugerido que recebam o número 666 na fronte ou na mão direita, deverão rejeitá-lo, mesmo que isso signifique a morte. Outra conclusão que podemos tirar é que qualquer marca ou dispositivo oferecido antes dessa época não é a marca da besta que deve ser evitada. Todos saberão e aderirão conscientemente a ela, enquanto outros a rejeitarão e sofrerão as conseqüências por isso.[25]

O que o nome e o número da besta significam será conhecido dos santos que estiverem na terra na época em que a besta estiver aqui em pessoa. De uma coisa temos certeza: mingúem na terra atualmente tem sabedoria suficiente para compreender o número da besta. [26]


CONCLUSÃO

Admito que no momento é impossível averiguar a identidade deste diabólico personagem, pelos motivos já expostos.

Quanto às interpretações acima mencionadas é praticamente inútil, tentar abordar, ainda que por alto, todos os aspectos ou analisar-lhes as contradições.

Todos os cálculos que se fez até agora mostraram-se falhos. Isto porque, com um pouco de criatividade, é fácil impingir o número da besta em qualquer um. Se não funciona com letras hebraicas, troca-se por latinas ou gregas. Acrescenta-se e tira-se títulos. Existem vários modos de se obter o número. Principalmente quando usamos líderes mundiais que mormente possuem vários títulos. [27] Mas até mesmo usado num "João da Silva" este número pode se encaixar. Os vários recursos disponíveis tornam as chances bastante altas. É o malabarismo do estica-encolhe exegético afim de forçar o número 666 se encaixar no personagem de sua escolha. O vale tudo em nome do fanatismo!

Isto posto, repudiamos tal irresponsável teologia escatológica especulativa que serve mais para confundir, do que para elucidar a questão.


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Notas bibliográficas

[1] Persch, Léo. A Segunda Vinda de Jesus. Campinas: Ed. Raboni, 1995, p. 155.

[2] Malgo, Wim. Terá Chegado o Fim de Todas as Coisas? Porto Alegre – RS: Obra Missionária Chamada da meia-Noite, p. 35.

[3] Para saber mais sobre o uso deste número em nosso século ver “O Controle Total – 666”, Wim Malgo, “Obra Missionária Chamada da Meia-Noite” – Porto Alegre-RS.

A Kia Motors do Brasil é, desde maio de 1992, representante oficial da montadora sul-coreana no país. No site oficial http://www.kia.com.br/empresa.php encontramos a frase: "O sucesso foi tão expressivo que, ainda hoje, dez anos após o seu lançamento, a Besta ainda é sinônimo de van no mercado brasileiro."

[4] Para ver uma defesa do próprio inventor do código de barras George J. Laurer, contra esta neurose religiosa acesse o site na sessão de perguntas e repostas http://www.laurerupc.com/.

Obs: Há alguns anos houve um verdadeiro pandemônio entre Milhares de sacerdotes, monges e fiéis cristãos ortodoxos russos que recusavam-se a aceitar os novos números do cadastro de contribuintes (equivalente ao CPF) dados pelo governo, afirmando que o código de barras no formulário continha a marca da besta.

[5] Revista Adonay, sob o título “A Marca da Besta”. Ano 4 – nº 23 –julho e agosto de 2000, pp. 26-29.

[6] O site http://www.relatorioalfa.com.br/, garante que empresa americana está pronta para marcar 75 mil brasileiros com um micro chip transmissor.

[7] Muitas coisas já foram identificadas com o famigerado 666. Exemplos foram extraídos do código da internet WWW, onde convertem o W em número romano VI=6; VI VI VI = 6 6 6. O sinal da besta seria o computador, na testa (com o monitor) e na mão (com o mouse). Também encontraram o número na frase “Viva, Viva, Viva a Sociedade Alternativa”, da música do ex-roqueiro Raul Seixas, onde transformaram a sílaba VI em algarismo romano V = 6. Então o VIva VIva VIva, virou 6 6 6. “ Marquei um X, um X, um X no seu coração” da cantora Xuxa também se enquadraria na famosa continha. Segundo dizem a letra X pronunciada em português seria XIS, lendo de trás para frente vira SIX que em inglês é 6. Então SIX,SIX,SIX = 666.

[8] Deve-se ter em mente que o original grego não trazia a divisão em capítulos e versículos. A primeira Bíblia que trouxe esta divisão foi a Vulgata em 1555.

[9] Exemplos deste tipo podemos encontrar no Corão muçulmano e no Bhagavad Gita indiano.

[10] Champlin, R.N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo - vol. 6, São Paulo: Ed. Hagnos, 2002, pp. 560-562.

[11] Ele alegoriza os 318 servos de Abraão (9:8), ao se referir a morte de Cristo na cruz, na base de que a letra grega para 300 tem a forma de cruz e que os numerais gregos para 18 são as duas primeiras letras do nome de Jesus.

[12] Champlin, R.N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo - vol. 6, São Paulo: Ed. Hagnos, 2002, pp. 560-562.
Obs: Os manuscritos usados por Ireneu são conhecidos como manuscrito C (Codex Ephraemi Rescriptus) do séc. V d.C; e o itz do Séc. VIII d.C. Curiosamente o manuscrito conhecido como itar do séc. IX d.C. trás o nº 646.

[13] Uma defesa ardorosa deste ponto de vista foi feita pelo Dr. Aníbal Pereira dos Reis, em seu livro “O número 666 de Apocalipse 13.18” Ed. Caminho de Damasco.

[14] Citado em “Profetas e Prognósticos – visionários otimistas e pessimistas de Delfos até o Clube de Roma”, Helmut Swoboda, São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1980, p.70.

[15] Ibid., p.72.

[16] Outros nomes nesta lista : Constantino, Martinho Lutero, reverendo Pat Robertson, reverendo Moon, Yasser Arafat, Aiatolá Khomeini, Saddan Hussein, Kennedy, Mussolini, Balaão, Ronald Reagan, César, Adonição em hebraico, Calígula, rei Juan Carlos da Espanha, Ismet o pai da Turquia moderna, imperador Frederico II da Alemanha, rei George II da Inglaterra, Nikita Kruschev, Napoleão, Joseph Stalin, Mussolini. Até mesmo o nome Jesus de Nazaré" em hebraico (YRSN VSY) dá 666. Também a própria "besta" em grego (= Thérion) escrita com letras hebraicas (= TRYVN) soma 666.

Para uma defesa de Bill Gates veja o site http://www.dgol.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1116.

[17] Alguns estudiosos adventistas afirmam que Ellen White atribuiu o nº 666 não a besta, mas a sua imagem. Para mais informações ver o livro "A Word to the Little Flock". Extraído do site www.jovemadventista.com/religiao/666/666

[18] Op. Cit., Casa Publicadora Brasileira, 1991, p. 214.

[19] Para ver mais sobre esta omissão consultar 1) As profecias do fim pág. 316-318 - Autor Hans K. La Rondelle (Professor emérito de Teologia da Univ. de Andrews)- Publicado pela ACES (1999); 2) Apocalipse: suas revelações pág. 413-415 - Autor C. Mervyn Maxwell (diretor do departamento de História Eclesiástica e professor de História da igreja na universidade de Andrews)- Publicado pela ACES (1991)

Curiosamente a lição da Escola Sabatina de 20 a 27/05/2000 que tratava sobre a famosa tríplice mensagem angélica, omitiu que a besta do Apocalipse é o papa. Os termos "falsos sistemas religiosos" e "falsos sistemas de adoração" são utilizados para substituir os costumeiros "Roma" e o "poder papal" tão marcantes no livro "O Grande Conflito".

[20] Op. Cit., 1998, p. 196.

[21] Para mais informações http://www.geocities.com/osarsif/

[22] Revista Defesa da Fé, Edição Especial 2000, p. 278.

[23] Panfleto “666” de autoria de D. Mathyas Pynto, líder de uma facção deste movimento. Cópias dos originais nos arquivos do CACP..

[24] Para uma defesa desta tese ver “Comentário Bíblico Pentecostal – Novo Testamento”, Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2003, pp. 1891-1893.

[25] Revista "Chamada da Meia-Noite, janeiro de 2004.

[26] Sr., Lockyer Herbert. Apocalípse: O Drama dos Séculos. Miami, Flórida EUA: Ed. Vida, 1982, pp. 141-142.

[27] Veja este exemplo usando o nome do dono da Microsoft, Bill Gates: Se você usar a chamada linguagem ASCII que consiste em pressionar ALT+66, aparece a letra B, Alt+73=I, Alt +76=L, Alt+76=L, Alt+71=G, Alt+65=A, Alt+84=T, Alt+69=E e por fim Alt+83=S. Somando todos estes números, obtem-se o número 663. Mas como isto não se encaixa, lembraram que ele se chama Bill Gates III (terceiro). Então 663+3=666. Fácil, não? Porém se esqueceram que o nome dele não é Bill, mas William Gates III.
Eis um exemplo típico de quase todos os “caçadores de besta”: preferem ignorar os fatos a abdicar de suas idéias preconcebidas.

Testemunhas de Yehoshua: O que é isto?

Por Ezequias Soares da Silva (Presidente do Conselho de Apologética da CGADB)


História e doutrina

Um novo movimento está surgindo entre o povo, denominado Igrejas de Deus das Testemunhas de Iehoshua, conhecido também por Testemunhas de Iehoshua. Fizemos um levantamento sobre esta nova seita, pesquisamos seu material (algumas apostilas) e entrevistamos, via telefone, o fundador da nova religião. O movimento foi fundado em 1987, em Curitiba, PR, por Ivo Santos de Camargo. O fundador não possui formação teológica formal. Diz que estudou hebraico durante dois anos, após a suposta revelação.Atualmente dirige a Igreja, segundo ele, com cerca de 100 membros. Afirma que seu movimento está do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte.

O fundador afirma nunca pertencer a uma igreja evangélica, mas diz haver visitado algumas delas. Diz que recebeu uma revelação de Deus sobre a pronúncia exata do tetragrama (nome divino, as quatro consoantes [YHWH] e que esse nome é o mesmo do Salvador. Segundo o fundador, o nome "Jesus" é uma abominação, é o paganismo do catolicismo romano. O nome que veio do céu, diz, é Iehoshua. Afirma ainda "ser filho direto da revelação", portanto sua ordenação é direta com Deus. É contra a todas as igrejas evangélicas, admite que a salvação depende do conhecimento e da revelação do nome Iehoshua, e mesmo assim, dentro de sua organização religiosa.

Os adeptos do referido movimento, sob a orientação de seu fundador, negam a doutrina da Trindade, embora defenda a deidade absoluta de Jesus. É o sabelianismo modal, como a Igreja Local de Witness Lee e a Igreja Voz da Verdade, do conjunto musical de mesmo nome. São sabatistas, defendem a guarda do sábado, como os adventistas do sétimo dia. Defendem duas categorias de salvos, mais ou menos como as Testemunhas de Jeová: Os cristãos salvos vão para céu, exceto os judeus, assírios e egípcios, estes herdarão a terra. São exclusivistas como as demais seitas pseudo-cristãs.

Os adéptos da nova seita costumam visitar os templos evangélicos em grupos, para tumultuar o ambiente. Um membro do grupo pergunta ao pregador sobre Iehoshua e Jesus. É óbvio que dificilmente vai encontrar alguém que saiba hebraico, nem elas mesmas o sabem, são pedantes. Quando o pregador se embaraça os demais membros do grupo começam a gritar criando uma verdadeira balbúrdia no culto. São proselitistas. Estão preocupados em arrebanhar os cristãos evangélicos, pois são pescadores de aquários.

É uma seita inexpressiva e seus argumentos só podem convencer as pessoas mais simples e os incautos. Suas crenças são inconsistentes e de uma pobreza franciscana. É bom lembrar que C. T. Russell, fundador das Testemunhas de Jeová, começou com suas idéias subjetivas, posteriormente transformando suas ficções em "verdades", pelo processo de lavagem cerebral. Sua religião conta hoje com quase seis milhões de adeptos em todo o mundo. A Igreja do final do século passado e do início do século vinte subestimou o tal grupo. Com o trabalho ferrenho de casa em casa, aos poucos eles vão crescendo.
Se as igrejas da atualidade subestimarem a seita Testemunhas de Iehoshua, poderemos ter o mesmo problema no futuro, pois a mentira repetida vinte vezes se torna "verdade", como dizia Mussolini. Apesar das crenças dessas seitas serem ficções, doutrinas subjetivas, sem base bíblica, todavia elas estão fazendo proselitismo. O povo precisa saber que a crença delas é um combate contra o Cristianismo bíblico.

JESUS OU IEHOSHUA?

Origem do nome

O nome Jesus vem do hebraico (Yehoshua) — "Josué", que significa "Iavé é salvação". Josué era chamado de Oshea ben Num "Oséias filho de Num" (Nm 13.8; Dt 32.44). "Oshea" significa "salvação". Moisés mudou seu nome para Yehoshua ben Num "Josué filho de Num" (Nm 13.16).

A Septuaginta usou o nome (Iesus) para Yehoshua, portanto Iesus é a forma grega do nome Yehoshua, exceto I Cr 7.27, que transliterou por (Iousue) — "Josué". Depois do cativeiro de Babilônia, o nomeYehoshua era conhecido por (Yeshua). Em Neemias 8.17 Josué é chamado Yeshua ben Num. Yeshua é o nome hebraico para Jesus até hoje em Israel. Isso pode ser comprovado em qualquer exemplar do Novo Testamento hebraico.

O sumo sacerdote Josué, filho de Joazadaque, é chamado em hebraico simultaneamente de Yeshua (Ed 3.2, 8; 4.3; 5.2; Ne 7.7) e Yehoshua (Ag 1.1, 12, 14; 2.2, 4; Zc 3.1, 3, 6, 8, 9; 6.11). Embora nossas versões usem Jesua (Almeida Corrigida, Atualizada e Contemporânea) Jesuá (Revisada) Jeshua (Brasileira), contudo a Septuaginta não faz essa distinção — Usa Iesus para ambos. Iesus é o nome do Messias, o nosso Salvador, registrado no Novo Testamento, que chegou para nossa língua como Jesus.

O NOME YEHOSHUA

O que as Testemunhas de Jeová fazem com o nome "Jeová", assim o fazem as Testemunhas de Yehoshua com relação ao Deus-Pai e ao Deus-Filho. O fundador disse que recebeu uma revelação de que a pronúncia correta do tetragrama não é Jeová, Javé, Iahweh e nem Yehovah, mas Iehoshua. Agora procuram justificar esta "descoberta" em Êx 23.20, 21, que diz: "Eis que eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde neste caminho e te leve ao lugar que te tenho aparelhado. Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz, e não o provoques à ira; porque não perdoará a vossa rebelião; porque o meu nome está nele". Afirma que esse Anjo é Josué, com base na expressão: "o meu nome está nele". Como o nome "Josué" em hebraico é Yehoshua assim explica sua teoria.

Negando a doutrina bíblica da Trindade afirma que Iehoshua é o nome do Deus de Israel, revelado no Velho Testamento, e que esse nome é o mesmo do Messias, que deve ser invocado por "Iehoshua" e não por "Jesus". Segundo eles: "Jesus é o nome que os papas introduziram nas Sagradas Letras, blasfemando do nome que veio do céu". Em outra literatura diz: "No fim do III século da era cristã, quando o bispo Jerônimo traduziu as Escrituras para o latim, a língua oficial do império romano. Nesta ocasião o nome original IERROCHUA foi substituído pelo nome grego-romano (IESOUS)".

É pena que essas vítimas estejam tão mal-informadas. Há textos do Novo Testamento anterior a data apresentada pela seita, que mostram que a infirmação dessas vítimas não é verdadeira. Por exemplo: Os papiros 45, 46 e 47, conhecidos como Chester Beatty, que se encontram atualmente no museu Beatty, em Dublin, Irlanda, são do início do terceiro século, e trazem a forma abreviada de (Iesus) — IS ou IC. Da mesma forma os Papiri Bodmeriani, 66, 75 e 76, que se encontra na Biblioteca Bodmer, em Geneve, Suiça. O papiro 75 contém os evangelhos de Lucas e João, é datado entre 175 e 225 AD. Esse argumento de que o nome Iesus é coisa de Jerônimo, no fim do século III não procede.

Ensinam que o Pai é Filho e o Filho é Pai: Doutrina sabelianista. Jesus disse: "E na vossa lei também está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou" (Jo 8.17, 18). Essa passagen bíblica, por si só, destrói completamente o sabelianismo e qualquer doutrina unicista. Além disso, encontramos vezes, nos evangelhos, Jesus se dirigindo ao Pai como outra pessoa. Negam, como as Testemunhas de Jeová, a personalidade do Espírito Santo.

O primeiro problema dessa interpretação, para não dizer invenção, é que a pronúncia Yehoshua, não comporta no tetragrama. Diz o fundador do referido movimento: "Essa vocalização foi feita pelo ANJO, não por homens". Isso que a seita fez não é vocalização, pois as letras hebraicas (ayin) e (shin), que aparecem no nome Yehoshua são consoantes. O problema da pronúncia exata do tetragrama diz respeito meramente com as vogais, e o fundador acrescenta duas consoantes. As letras y (yiud), h (he) e w (vav) aparecem no nome Yehoshua, mas no tetragrama o he aparece duas vezes. O nome (Yehudah) "Judá" traz as quatro consoantes hdwhy, eliminando a letra dalet d fica o tetragrama hwhy. O nome "Judá", em hebraico, se aproxima mais do tetragrama que o nome de "IEHOSHUA". Nem com uma camisa-de-força seria possível ser essa a pronúncia exata do tetragrama, é impossível tal pronúncia. Yehoshua não é o nome do Deus de Israel e nem de seu Filho Jesus, mas o nome de dois personagens que são figuras de Cristo: Josué filho de Num e Josué filho de Jozadaque.

O misterioso anjo

Por que o referido Anjo deveria se Josué, segundo a seita? Alegam esses adeptos que isso é pelo fato de o texto afirmar: "o meu nome está nele". A Bíblia diz que Deus pôs o seu nome sobre os filhos de Israel (Nm 6.27); sobre o Templo de Jerusalém (II Cr 7.15); sobre a cidade Santa e assim por diante. Por que só nessa passagem os adeptos de Ivo dos Santos Camargo afirmam que esse Anjo é Josué? Assim, essa expressão "o meu nome está nele" não justitica a teoria das Testemunhas de Iehoshua.

O Anjo nesta passagem é um ser sobrenatural que haveria de proteger Israel até a total extinção dos amorreus, heteus, ferezeus, cananeus, heveus e jebuseus (Êx 23.23). A fortaleza dos jebuseus só foi conquistada por Davi, mais de 350 anos depois da morte de Josué (2 Sm 5.6-9). Logo esse anjo não pode ser Josué.

Deus se manifestou como anjo diversas vezes. Esse misterioso Anjo aparece a Agar, no relato do nascimento de Ismael (Gn 16.7-13). No v. 10 o Anjo diz: "Multiplicarei sobremaneira a tua semente". No v. 13 "E Ela chamou o nome do SENHOR, que com ela falava: Tu és o Deus da vista". Quem falava com ela era Deus ou o Anjo? Da mesma forma, encontramos na teofania do sarçal ardente: "E apareceu-lhe o Anjo do Senhor em uma chama de fogo... e vendo o SENHOR que se virava... bradou Deus... Eu sou o Deus de teu pai... (Êx 3.2, 4, 6). Ora, quem apareceu a Moisés foi Deus ou o seu Anjo? Como se explica isso Esse Anjo, que além de apresentar atributos divinos, diz explicitamente que é Deus. Ele é o Messias pré-encarnado, portanto, o próprio Deus. É esse o significado de "o meu nome está nele". (Êx 23.21). O próprio Josué teve um encontro com esse Anjo (Js 5.13-15).

Assim fica claro que Yehoshua é um nome e o tetragrama é outro. O que nos espanta é o fato de alguém afirmar de maneira aleatória que "isso é aquilo" sem sustentação alguma baseado exclusivamente no subjetivismo e em cima disso criar uma religião. O pior de tudo isso é que ainda consegue adeptos!

Algumas supostas objeções

Questão da letra j. Diz o fundador das Testemunhas de Iehoshua que o nome correto de nosso Salvador não pode ser "Jesus" por não existe a letra j na língua hebraica. Esse argumento é de uma pobreza franciscana! É verdade que o j não existe no hebraico, grego e latim. No hebraico a letra y yud representante tanto o som vogal i como a consoante y. O mesmo acontecia com o latim com as letras i e u. O emprego das letras j e v para representar i e u consonânticos ocorreu na época do Renascimento, e difundido por Pierre de la Ramée. Por isso lemos Jerusalém, e não Yerushalayim; Jeremias, e nãoYeremiahu; Jonas, e não Yonah; Joaquim, e não Yehoiacin; e assim por diante.

O número 666. Alegam que a expressão "Jesus Cristo Filho de Deus" equivale ao número 666, isso para consubstanciar sua teoria de que o nome "Jesus" é satânico. Antes de tudo, convém salientar que, com um pouco de criatividade, é possível tomar o nome de qualquer personagem e adaptar com seus títulos selecionados até que se chegue ao número 666. Isso é possível fazer com o nome do próprio líder do movimento Testemunhas de Iehoshua. Quando se quer rotular alguém de 666 há muitas maneiras de fazê-lo. Se não funcionar em caracteres latinos, pode-se usar caracteres hebraicos. Se um título não encaixar, substitui por outro, ou adiciona mais um adjetivo. Se mesmo assim não for possível, basta criar cálculos cabalísticos. Esse artifício das Testemunhas de Iehoshua só convence quem prefere trevas à luz.

Outro ponto importante é que não existe na Bíblia a expressão "Jesus Cristo Filho de Deus". Essa construção não é bíblica. A Bíblia ensina inúmeras vezes que Jesus é o Filho de Deus, mas não com essa construção. Colocar essa construção em latim para depois adaptar ao número 666 é um artifício maligno para atacar o cristianismo bíblico.

Nome não se traduz. É verdade que nome não se traduz, mas se translitera conforme a índole de cada língua. Os nomes Eva, David e outros que levam a letra w wav, "v" em hebraico aparecem como Eua,Dauid, nos textos gregos. No grego moderno a letra b beta b na antigüidade", hoje é v. Hoje se escreve Dabid para David e Eba para Eva.

Há nomes que permanecem inalteráveis em outras línguas, mas não são todos. O nome "João", por exemplo é Yohanan, em hebraico; Ioannes, em grego; John, em inglês; Jean, em francês; Giovani, em italiano, Juan, em espanhol; Johannes, em alemão. Jacó, em hebraico é Yaakov; Iakobo (Tiago), em grego; Jacques, em francês; Giácomo, em italiano; Jacob, em inglês. Há nomes que mudam substancialmente de uma língua para outra. Eliazar, em hebraico, é Lázaro em grego. Elisabete é a forma hebraica do nome grego Isabel. O argumento, portanto, de o nome deve ser preservado na forma original, em todas as línguas é inconsistente, sem apoio bíblico.

Iesus. Alegam que o nome Iesus é uma zombaria do nome de Deus, pois sUs (sus) significa "cavalo" em hebraico. Esse argumento é um insulto à inteligência humana, porque Iesus é nome grego e sus é hebraico. O nome Iesus é a forma grega do nome hebraico Ieshua. Segundo O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, o "s" foi acrescido para facilitar a declinação: "Iesus é a forma gr. Do antigo nome judaico Yesua, forma esta que se obtém mediante a transcrição do heb., acrescentando-se um -s para facilitar a declinação". "Cavalo", em grego, é hyppos, e não sus.

OS DISSIDENTES E SUAS CRENÇAS

Apesar de o movimento ser tão novo, já saiu outro grupo dele. Os dissidentes do movimento, que também se identificam como Testemunhas de Iehoshua, defendem os mesmos princípios do fundador, indo mais além: Negam a autoridade do evangelho de Mateus; ser Jesus o Filho de Deus, dizem que Jesus é filho de José e Maria, negando o nascimento virginal de Jesus, alegam que só após a ressurreição ele "tornou-se" Filho de Deus.

Filho de Deus

Os dissidentes das Testemunhas de Iehoshua catalogam todas as passagens bíblicas que revelam a linhagem humana de Jesus para questionar a sua filiação divina. Isso para consubstanciar a sua doutrina de que Jesus tornou-se Filho de Deus pela sua ressurreição, e citam para isso Romanos 1.4. Onde eles citam tais passagens, deveriam acrescentar as passagens bíblicas que provam ser Jesus o Filho de Deus, mesmo durante o seu ministério terreno, portanto, antes de sua morte e ressurreição, mas isso não o fazem.

A fé cristã nos obriga a crer que Jesus é o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem. Jesus possuía duas naturezas: Humana e divina. A Bíblia está repleta de passagens que mostram o lado humano de Jesus, tanto nas características: Nasceu, cresceu, sentiu fome, sede, cansaço, sono etc., bem como a sua origem humana, traçada desde a genealogia. Isso, em nada neutraliza o lado divino e a sua filiação divina. Disse o apóstolo João: "Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus" (1 João 4.15). "Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (1 João 5.5). "Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê, mentiroso o fez; porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu"(1 João 5.10).

O evangelho de Mateus

Eles recusam o evangelho de Mateus chamando-o de "Evangelho Duvidoso", pois se diz que foi escrito originalmente escrito em hebraico e depois traduzido para o grego. Nessa tradução, segundo eles, o texto foi corrompido. Alegam que é o único dos evangelhos que tem o batismo em nome da Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo (Mateus 28.19); permissão para o divórcio (Mateus 19.9) salvação pelas obras (Mateus 25.34-36); substancia o papado (Mateus 16.16-19); considera o nascimento virginal de Jesus cumprimento de Isaías 7.14.

Só pelo fato de este grupo rejeitar o Evangelho de Mateus já tem o repúdio dos cristãos. Não é um grupo de pessoas obscuras e de conhecimento bíblico duvidoso que vai por em xeque uma obra que passou por escrutínio da mais alta erudição durante esses vinte séculos de cristianismo. Seus argumentos são artificiais e inconsistentes.

Ainda não está confirmado que Mateus escreveu o seu evangelho em hebraico ou aramaico. Apesar dos fortes testemunhos da patrística, desde o segundo século, contudo, nada há no conteúdo deste evangelho que confirme essa versão. Antes, o contrário, a expressão encontrada nele: "Que traduzido é: Deus conosco" (Mateus 1.23) mostra que não haveria necessidade de se traduzir o significado de "Emanuel", uma vez que o texto já está em hebraico. Outro ponto interessante, é que há duas formas gregas de se escrever o nome" Jerusalém": Jierosovluma, (Ierosolyma) grega e jIerousalhv;m(Ierusalem) — hebraica. Mateus usa a forma grega, o que seria estranho para uma obra escrita originalmente em hebraico.

"Eis que uma virgem conceberá"

"Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel" (Isaías 7.14).

O substantivo hebraico para "virgem" usado nesta passagem é (almah). Isto tem dado espaço para intermináveis controvérsias, principalmente por eruditos judeus e por teólogos "cristãos" modernistas, na tentativa de neutralizar a doutrina do nascimento virginal de Jesus. Alguns afirmam que a palavra mais apropriada para "virgem" seria (b'tulah) e com isso querem dissociar Mateus 1.23 de Isaías 7.14. Nessa linha estão também os dissidentes iehoshuolitas.

A palavra b'tulah aparece 51 vezes no Velho Testamento hebraico e é traduzida 44 vezes por (parthenos), na Septuaginta. Ela pode se aplicar a uma mulher casada (Jl 1.8) o que não ocorre com o substantivo almah, que só se aplica a mulher solteira. W. E. Vine, com base em Joel 1.8, diz que b'tulah nos textos aramaicos tardios era aplicada a uma mulher casada. Isso, portanto, segundo Vine, traria muita confusão: "Não ficaríamos sabendo o que era exatamente o que tinha em mente. Estava se referindo a uma que era verdadeiramente virgem, ou uma que estava desposada, ou uma que já havia conhecido marido? À luz destas considerações, parece que a eleição da palavra almah foi deliberada. Parece que é a única palavra hebraica disponível que indicaria com clareza que aquela a que ele designa não estava casada".

O substantivo almah aparece 9 vezes no Velho Testamento hebraico (Gn 24.43; Êx 2.8; 1 Cr 15.20; Sl 46 (título, pois a palavra hebraica alamoth é plural de almah); 68.25; Pv 30.19; Ct 1.3; 6.8; Is 7.14). Em dois lugares a Septuaginta traduziu por parthenos, que significa "virgem" (Gn 24.43; Is 7.14). A mesma Rebeca que é chamada "virgem, [b'tulah, em hebraico] a quem varão não havia conhecido", no v. 16 desse mesmo capítulo, é chama de almah. A Septuaginta foi traduzida antes do nascimento de Jesus (285 a. C., segundo Josefo e a carta de Aristéia). Há muitas controvérsias quanto a essa data. Qualquer que seja, o certo é que foi antes do nascimento de Jesus. A tradução foi feita por rabinos, portanto, entendiam que almah em Isaías 7.14 se tratava de uma "virgem". Assim era o significado dessa palavra na época.

É muito suspeito que só depois do surgimento do cristianismo que os judeus procuraram reavaliar o significado dessa palavra. As versões gregas do Velho Testamento, que vieram após o cristianismo substituíram parthenos por neanis "jovem". Áquila era judeu e discípulo do rabino Akiva (morto em 132 AD). A outra versão é a de Teodócio, apóstata do cristianismo, que voltou ao judaísmo (final do segundo século AD); e finalmente a de Símaco, que era ebionita (seita judaica que negava a divindade de Cristo) preparada em 170 AD.

Diz o Dr. Aage Bentzen, nada ortodoxo, contra a nossa linha conservadora, mas admite que parthenos veio dos próprios judeus: "Contra a Igreja os judeus sustentavam que Is 7.14 não fala de uma `virgem' (parthenos), mas de uma `mulher jovem' (neanis). Os cristãos respondiam acertadamente que a tradução parthenos provém de tradutores judeus". Até hoje, para fazer frente contra o nascimento virginal de Jesus, os judeus, em Israel usam almah para "senhorita".

Há quem diga que o contexto do Velho Testamento não fornece luz suficiente para o significado de "virgem", contudo, muitos eruditos afirmam o contrário. Gerard Van Groningen cita cinco autoridades no assunto sobre a palavra ugarítica galmatu encontrada nos documentos de Ras Shamra. Uma dessas autoridades, H. Wolf, em sua obra Interpreting and Glory of the Messiah, p. 450, diz: "Nos três lugares onde glmt, o equivalente exato de almah, é usado, ele refere-se a uma jovem procurada para casamento".

Gerard Van Groningen apresenta a seguinte conclusão: "Um exame dos materiais disponíveis a estudiosos e peritos, como indicado acima, leva-nos à segura conclusão de que, com base no uso do termo tanto em hebraico quanto em ugarítico o termo almah deve ser traduzido por `virgem'. A Septuaginta dá pleno apoio a isto e o testemunho do Novo Testamento (Mt 1.23) dá a palavra final. Isaías disse e pretendeu dizer virgem".

A Trindade

Tanto as Testemunhas de Iehoshua como seus dissidentes, ambos negam a Trindade, como é característica das seitas. Segundo Jo 17.3, a doutrina de Deus é uma questão de vida ou morte. Jesus classificou o assunto como o primeiro de todos os mandamentos (Mc 12.29).

O nome "Deus" é polissêmico na Bíblia. Aparece com referência ao Pai sozinho, como Deus verdadeiro e absoluto (Fp 2.11), em Jo 1.1: "...e o Verbo estava com Deus..."; com referência ao Filho, como sendo Deus absoluto, com toda a sua plenitude (I Jo 5.20; Cl 2.9; e na terceira parte de Jo 1.1: "...e o Verbo era Deus". Da mesma forma com relação ao Espírito Santo (At 5.3-4); e muitas vezes esse termo "Deus" se aplica à Trindade (I Co 15.28; Mc 12.32). O mesmo acontece com o tegragrama hwhy (YHWH) "YAHWEH", ou "SENHOR", conforme nossas versões do Velho Testamento. Refere-se ao Pai (Sl 110.1), ao Filho (Jr 23.5-6), ao Espírito Santo (II Sm 23.2-3), e à Trindade (Dt 6.4; Sl 83.18).

A Bíblia ensina que cada uma destas pessoas é Deus absoluto em toda a sua plenitude. Contudo não ensina um triteísmo, pois enfatiza a existência de um só Deus. A Trindade, portanto, é a união de três Pessoas distintas em uma só Divindade, e não em uma só Pessoa, pois a unidade de Deus é composta e não absoluta.

Os dissidentes do movimento de Ivo dos Santos Camargo, além de negarem a Trindade, recusam aceitar a autoridade do evangelho de Mateus. A Trindade está em toda a Bíblia e não meramente em Mateus. Nenhum cristão está autorizado a rejeitar certos livros da Bíblia pelas suas peculiaridades. O fato de Mateus ser o único a registrar a fórmula batismal não significa que o texto seja espúrio, pois cada livro da Bíblia sem as suas peculiaridades. Marcos foi o único registrou o moço desnudo que fugiu por ocasião de prisão de Jesus (Marcos 14.51, 52). Lucas foi o único que registrou a origem de João Batista, a infância de Jesus, a parábola do filho pródigo, as passagens do Rico e Lázaro e do Bom Samaritano. João foi o único que registrou o milagre de Caná da Galiléia, transformando água em vinho, a ressurreição de Lázaro, o lava pés etc. Isso, por si só, destrói completamente o interpretação das Testemunhas de Iehoshua.

Quanto à salvação pelas obras, convém salientar que a passagem de Mateus 25.34-36 não diz respeito à salvação. O texto fala do julgamento das nações. O divórcio não é peculiaridade de Mateus, Paulo também admitia o divórcio em certas circunstâncias (I Co 7.10-15). O nascimento virginal de Jesus é também confirmado em Lucas 1.34 "Então Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, uma vez que não conheço varão?"

Conclusão

Ultimamente tem havido inúmeras inovações no meio do povo de Deus. Tanto fora da Igreja como no seio dela surgem as heresias. O apóstolo Paulo disse que Deus permite que isso aconteça para provar os fiéis (1 Co 11.19). É verdade que cada ser humano tem a liberdade pensamento e de expressão. Tem o direito de expressar seus pensamentos por mais exóticos que sejam. Causa-nos estranheza o fato de esses agentes dessas idéias excêntricas encontrarem adeptos, acharem quem acredite nessas invenções.

Os fundadores de seitas costumam dizer que receberam revelação direta de Deus. Geralmente essas revelações contradizem a Bíblia. Seus adeptos, muitas vezes, deixam a Bíblia para seguirem seus líderes. Isso aconteceu com Joseph Smith Jr, fundador do Mormonismo; William Miller, depois Ellen Gould White, com o Adventismo do Sétimo Dia; Charles Taze Russell, fundador das Testemunhas de Jeová; etc., e agora Ivo dos Santos Camargo, com as Testemunhas de Iehoshua.

Todo líder que procura impor uma inovação com base em suas supostas revelações, como doutrina básica de sua religião, deve ser rejeitado. A dona Valnice Milhomens resolveu defender a guarda do sábado porque, segundo ela, recebeu essa "iluminação" quando estava visitando Israel. Agora se insurge contra a ortodoxia cristã. Ainda que, no seu caso, não seja propriamente uma inovação, mas um retrocesso, pois os adventistas do sétimo dia já vem defendendo essa doutrina desde os dias da Sra. Ellen Gould White.

O nosso alerta às igrejas se encontra no apóstolo Paulo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem" (I Tm 4.16).


Todas as citações bíblicas são da ACF (Almeida Corrigida Fiel, da SBTB). As ACF e ARC (ARC idealmente até 1894, no máximo até a edição IBB-1948, não a SBB-1995) são as únicas Bíblias impressas que o crente deve usar, pois são boas herdeiras da Bíblia da Reforma (Almeida 1681/1753), fielmente traduzida somente da Palavra de Deus infalivelmente preservada (e finalmente impressa, na Reforma, como o Textus Receptus).